O desafio da logística
O principal desafio do futuro governo já está definido: modernizar estradas, recuperar portos e ampliar aeroportos para que as empresas se tornem competitivas
Por Redação da DINHEIRO
Qualquer que seja o vencedor na disputa presidencial deste
domingo, terá um desafio prioritário: enfrentar definitivamente o
chamado custo Brasil, que inclui estradas esburacadas, portos sucateados
e aeroportos operando além do limite da capacidade. O desafio é tão
grande quanto o problema, mas não deverá faltar recurso.
O orçamento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) subirá
36,6%, entre 2010 e 2011, alcançando R$ 43,5 bilhões – o equivalente ao
dobro do lucro da Petrobras no ano passado. Deste total, R$ 17,9 bilhões
serão destinados à modernização de rodovias, portos, ferrovias,
aeroportos e hidrovias.
Contrastes: a frota brasileira de caminhões é uma das mais modernas do mundo, mas as estradas ainda deixam a desejar
Os investimentos vêm em boa hora. O esforço do governo em recuperar
a defasagem da logística brasileira parte de um pressuposto básico no
capitalismo moderno: se o Brasil pretende se tornar uma potência no
cenário econômico mundial, precisa ter uma infraestrutura à altura de
sua ambição.
Enquanto isso não acontece, as empresas estão trilhando seus
próprios caminhos em busca da logística ideal. “O que faz a geladeira
não ser geladeira é ela não estar na hora certa no lugar certo”, compara
Eduardo Cunha, especialista em logística da consultoria Accenture.
O BNDES já abriu os olhos para isso. A instituição avalia que,
entre 2010 e 2014, cerca de R$ 850 bilhões serão investidos na economia
brasileira, dos quais R$ 330 bilhões exclusivamente em logística – o
maior volume de recursos já aplicados na história econômica do País.
No entanto, investir muito não significa investir o necessário.
Para o consultor Eduardo Cunha, apesar da cifra recorde, muitos gargalos
continuarão existindo entre quem produz e o consumidor final em razão
dos contrastes estruturais entre as regiões do País.
Gargalo: os portos brasileiros ainda são mais burocráticos do que os internacionais
Além de reduzir as disparidades de infraestrutura entre o Nordeste e
o Sudeste, fatores como a carga tributária e a taxa de juros mais alta
do mundo também despontam como desafios. “O Brasil é muito industrial e
pouco comercial. Para darmos um salto, temos de seguir o caminho de
Cingapura e do Chile, por exemplo, que têm uma alta base de serviços”,
diz Cunha.
Nem só de investimento depende o futuro da infraestrutura
brasileira. O professor André Duarte, engenheiro de produção do Insper,
de São Paulo, diz que o maior desafio da economia brasileira é integrar
as cadeias de suprimentos, distribuição, custo, transporte e
matéria-prima.
Ao analisar todas as empresas listadas no mercado de capital aberto
brasileiro, Duarte constatou que, em 1997, 12% delas dispunham de uma
diretoria de operações logísticas. Hoje, 40% delas já dispõem de um
departamento logístico. O professor Duarte nota que a interligação entre
as empresas no capitalismo moderno é que vai fazer com que cresçam.
“Logística é, antes de mais nada, oportunidade e, dentre empresas,
trata-se de identificar o fornecedor do fornecedor”, diz ele.
A saga em busca da logística perfeita mistura inovação na
distribuição de produtos por parte das empresas, agilidade na reforma
das estruturas de portos e aeroportos por parte do setor público, e
capacidade de driblar a eventual falta de investimento governamental em
algumas áreas. Nas páginas a seguir, conheça os números do setor e saiba
como grandes empresas estão vencendo o desafio.
Fonte: Revista Isto é Dinheiro, Especial Logistica, 29 de Outubro de 2010, edição 682.